Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

In memoriam

Homenagem ao homem que amei, amo e sempre amarei...
Saudades muuuuuuuuitas, e eternas.
Que todos os bons espíritos possam sempre lhe iluminar, e que meu amor chegue até aí lhe dando paz, conforto e a certeza que só demos um até breve.



Passei boa parte da minha vida sorrindo pro mundo, alegrando as pessoas. Volta e meia era fácil me ver dando gargalhadas, fazendo piadas por todos os cantos. Era uma espécie de personal clown para os amigos deprês ou nas rodas de papo. Eu era natural, espontânea, muito divertida de fato. Era o ombro amigo nas horas tristes, aquela que levantava a moral do grupo. Eventualmente, alguém me dizia, em meio a risadas:
"Nossa, hoje você está radiante! Deve estar muito feliz mesmo!"

E eu sorria, por fora.

Apenas uma pessoa tinha o dom de me ver por dentro.

Nesses mesmos dias de alegria estampada no rosto ele era o única capaz de olhar pra mim e dizer:
O que aconteceu? Por que você está assim?

Ele me conhecia, de verdade. Sabia que a minha alegria em excesso era sempre sinônimo de uma tristeza profunda. Tristeza essa que eu só compartilhava com meus poemas adolescentes e precoces.

Então nós tínhamos um trato, ou melhor, um pacto invisível. Coisa de quem se gosta muito e se quer bem.

Ele me enxergava por dentro e me permitia chorar quando estava triste. E eu retribuía fazendo minhas palhaçadas quando ele estivesse cabisbaixo. Porque ele não merecia ficar triste.

Uma vez eu disse a ele:
- Se o senhor não parar para viver eu vou ter que sentar ao seu lado e chorar.

E ele sempre acabava rindo.

Há pouco mais de oito meses, no meu primeiro dia morando sozinha, senti algo estranho no trabalho. Uma agonia e mal estar.

Só recebi a notícia no fim da tarde pela voz de minha chefe e pela leitura do plantão do jornal. Estava trabalhando na hora mas não me contive e chorei.

Ele era um pai maravilhoso. E não era só meu pai e dos meus irmãos. Era um pai maravilhoso com todas as crianças que brincavam juntas da gente em nossa infância, das crianças do orfanato. Boa parte das minhas lembranças boas de infäncia e adolescência, e da vida de “adulta” incluem esta figura, esse homem-meu pai-confidente incrível que ironicamente morreu sem falar comigo. Justo ele que era o dono do maior coração do mundo e quem mais me entendia.

Não pude ir a missa de sétimo dia, pois estava viajando a trabalho e naquele momento eu percebi o que significa de fato ficar adulta: ele não mais poderia me escutar e me fazer sorrir.

Então só o que me restou foi chorar dentro dum avião da ponte aérea.

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