Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Borat

O que o crítico da revista “The new yorker” e o adolescente do interior dos Estados Unidos têm em comum? Ambos se renderam à comédia “Borat”, que, em um par de semanas, se tornou um enorme fenômeno cultural no país, um dos raros filmes a conjugar sucesso de público e crítica neste ano.

No site RottenTomatoes.com, que reúne e contabiliza as críticas de cada lançamento, “Borat” recebeu 92% de textos positivos. Se forem considerados apenas as publicações mais importantes, como a “New Yorker”, o número sobe para 100%.

No “New York Times”, a crítica Manohla Dargis escreveu: “O brilhantismo de Borat é que sua comédia é tão impiedosa quanto sua sátira social - e também tão perspicaz quanto”. Em sua capa, a revista “Entertainment Weekly” pergunta: “Será que esse homem fez o filme mais engraçado da história ou o mais ofensivo?”

A recepção do público não foi menos entusiástica. A princípio, a Fox, distribuidora do filme, decidiu fazer um lançamento médio para os padrões americanos, em apenas 837 salas - com medo de que a comédia não fosse bem aceita pelo público do interior dos EUA, onde o personagem Borat era pouco conhecido.

Em seu primeiro final de semana, o filme bateu recorde de bilheteria para um lançamento desse porte. No seguinte, foi expandido para 2566 salas e voltou a liderar a arrecadação. A (quase) unanimidade de público e crítica é um mistério - já que se trata de uma das comédias mais agressivas da história, um primor de incorreção política.

Mas, afinal, quem é Borat? Para responder, é preciso conhecer antes Sacha Baron Cohen, comediante inglês, judeu, formado em Cambrigde. Na Grã-Bretanha, Cohen ficou famoso por seu programa de TV “Da Ali G Show”, que tinha como personagem-título um rapper branco que tentava adotar as atitudes dos negros e fazia entrevistas irônicas com personalidades britânicas. Imagine um “Pânico na TV” mais agressivo e inteligente. Assim era o programa.

Borat Sadgiyev foi a segunda grande criação de Cohen. A partir do encontro com um folclórico médico turco, o comediante criou a figura de um repórter de TV do Cazaquistão anti-semita, machista e hiper-sexualizado. Na Wikipedia, a pequena biografia de Borat feita por Cohen dá uma idéia do tipo de humor do personagem:

“Ele é o filho de Asimbala Sagdiyev e Boltok, o Estuprador, que também é seu avô por parte de mãe. Ele é também o ex-marido de Oksana Sadiyev, que era filha de Mariam Tuyakbay e Boltok, o Estuprador. Sua relação com a mãe parecer ser desagradável, e Borat já comentou que ‘ela preferia ter sido estuprada por outro homem’. Borat tem uma irmã chamada Natalya, considerada a quarta melhor prostituta do Cazaquistão, com quem ele fornica com freqüência, e um irmão mais novo chamado Bilo, que é retardado mental e precisa ser trancado em uma gaiola de metal.”

Outro exemplo: nesse vídeo, ele diz que o Cazaquistão evoluiu muito e que agora as mulheres podem viajar dentro dos ônibus, que os homossexuais já não precisam usar chapéus azuis e que a idade mínima para o sexo não-consentido subiu para oito anos.

No filme “Borat” (veja o trailer aqui), que eu assisti ontem, o intrépido repórter viaja para os Estados Unidos para fazer uma reportagem sobre o país. Ao chegar lá, fica obcecado em conhecer e se casar com a pin-up Pamela Anderson.

Mais importante que a história em si é o polêmico método de Cohen. Nas entrevistas que dá sobre o filme, Cohen sempre aparece caracterizado como Borat e responde as perguntas em seu estilo ultrajante e seu inglês enrolado - fazendo os apresentadores gargalhar no ar em várias ocasiões.

Nas filmagens, ele se apresenta como Borat aos entrevistados (que em geral não o conheciam nos EUA), convence-os a assinar autorizações para uso de imagens e faz perguntas e comentários constrangedores. A técnica rende momentos hilários e eticamente questionáveis. Segundo o Yahoo, dois adolescentes estão processando a Fox, uma produtora de TV foi demitida depois de marcar uma entrevista com Borat, imaginando se tratar de um verdadeiro repórter cazaque, e algumas feministas entrevistadas ficaram furibundas.

Além disso, o governo do Cazaquistão já protestou diversas vezes contra o personagem. Algum tempo atrás, houve até um boato de que o presidente do país asiático iria discutir o assunto em um encontro com George W. Bush - o que foi desmentido mais tarde.

Mas, para cada pessoa incomodada, há milhares de novos fãs de Cohen. Para a média da crítica americana, o comediante pode até fazer um humor ofensivo, mas ele consegue atingir seus alvos: os politicamente corretos, os estrangeiros de costumes retrógrados e também os conservadores americanos. Cohen entendeu que precisa fazer uma comédia extremada para denunciar os extremos da sociedade.

Nenhum comentário: