E então eu acordei e quase caí da cama.
Tudo porque assisti seu mais novo show: monumental, espetacular, indescritível, inesquecível, arrasador, extraordinário, maravilhoso na última sexta, dia 26 de janeiro.
Eu acho que Chico Buarque é 10. Senão vejamos os motivos que me fazem acreditar nessa minha afirmação.
Ele é filho de uma das maiores inteligências do país, Senhor Sergio Buarque de Holanda, autor de obras imorredouras sobre a nossa cultura.
Alguns vão perguntar – Cultura? O que é mesmo cultura hein?
Bem, hoje não vamos debater isso, vamos deixar para outro dia que hoje eu só quero falar dele, de Chico Buarque o meu ídolo desde os meus 15 anos, ou seja, faz algum tempo.
O que é interessante é que dos meus 15 anos para cá o cara só melhorou, só se refinou, só se aperfeiçoou na difícil arte de compor letra e muitas vezes música criando assim obras primas que o “Canecão” inteirinho cantava junto com ele durante o show.
Músicas que falam do Brasil, do amor, de traição, do cinema, do abandono, do teatro, da família, da saudade, da literatura e do Rio de Janeiro.
Alias “Carioca” é o nome do espetáculo apesar de Chico ter sido criado em São Paulo e ter se formado no “racée” Colégio Santa Cruz no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo.
No dia 19 de junho nasce, na Maternidade São Sebastião, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Hollanda, o quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvin fluminense roxa., como o filho.
1946
A família muda-se do Rio para a Rua Haddock Lobo, em São Paulo. Seu pai é nomeado diretor do Museu do Ipiranga.
1953
Sérgio Buarque é convidado para dar aulas na Universidade de Roma e a família muda-se para a Itália. Compõe suas primeiras "marchinhas de carnaval" e torna-se trilingüe, falando inglês na escola (norte-americana) e italiano nas ruas.
1963
Ingressa na FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Frustrando o desejo da avó materna, Maria do Carmo, que sonhava ver o neto desenhando cidades, Chico abandonaria o curso três anos depois. Um dos ingredientes para a decisão é o clima de repressão que toma conta das universidades após o golpe militar de 1964.
O cenário do show é lindo como o show.
Idealizado por Hélio Eichbauer - um móbile metálico reproduzindo as montanhas do Rio (Morro Dois Irmãos, título de uma música dele) - serviu à perfeição para destacar a teatralidade de cada canção.
Em sambas mais acelerados, como "Dura na Queda" e "Morena de Angola", era ensolarado pela iluminação do genial Maneco Quinderé. Na segunda, aliás, até um curto solo de calimba - pequeno instrumento de percussão africano, com som que lembra o da marimba - basta para arrancar aplausos entusiasmados do público.
Quando a sonoridade era de bolero (como em "Leve" e "Bolero Blues" ), palco e móbile ganham tons azuis, tom exato para as dores de amor. Ou o vermelho dos "inferninhos" - os bailes de antigamente em temas mais movimentados, como "A História de Lilly Braun" e "A Bela e A Fera".
Já em "Renata Maria" e "Outros Sonhos", o sol de Hélio transmuta-se em lua, emoldurando a paixão das canções.
A seguir, Bia Paes Leme sai dos teclados para dividir vozes com Chico em "Imagina", criação dele com Tom Jobim de 1983. Privilégio igual só tem o baterista Wilson das Neves, quase ao final da apresentação, ajudando "a chefia" a desfiar a divertida "Grande Hotel". em "Olé, Olá", esta no bis).
Chico, aliás, teve de voltar três vezes ao palco. Na primeira, cantando "Sem Compromisso" e "Deixa A Menina"; na segunda, "Olé, Olá ; e na terceira, "João e Maria", com a platéia cantando junto. Aí foi Chico quem aplaudiu.
Chico tem um Octeto que consegue soar como orquestra
Com seu violão, mais o piano de João Rebouças, os teclados de Bia Paes Leme (que brilha como cantora no contracanto de "Imagina"), o contrabaixo de Jorge Helder, ainda o sax e a flauta de Marcelo Bernardes e o ritmo de Wilson das Neves e Chico Batera, Luiz Cláudio faz um octeto soar como uma orquestra que dá a Chico Buarque a qualidade de som exata para a sua voz e as suas composições.
A luz amarela durante a canção Bye Bye Brasil, com novo arranjador espetacular, é linda, e nos leva para a viagem que a letra propõe.
Essa letra é um caso tão interessante em que as palavras acompanham as imagens do filme são muito mais eloqüentes do que o filme propriamente dito.
Cacá Diegues não é ruim mas Chico é muito melhor.
Oi, coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor
No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor
No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor
Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra Rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amorBye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação tá no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr
Depois de algum tempo enfim um espetáculo com adrenalina e paixão.
Talvez como os, segundo mamãe, saudosos festivais da Musica Popular Brasileira, aliás onde Chico Buarque apareceu pela primeira vez cantando “A Banda” e nunca mais foi esquecido tamanho impacto que causou.
Como queria demonstrar o show de Chico é ouro puro, altamente recomendável, para qualquer idade, qualquer etnia, qualquer religião e principalmente para que ainda ama o Brasil. E não sou apenas euzinha que penso assim, tanto é que o show foi prorrogado até meados de fevereiro.
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