Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Chico Buarque cantou para mim a noite inteira


E então eu acordei e quase caí da cama.
Tudo porque assisti seu mais novo show: monumental, espetacular, indescritível, inesquecível, arrasador, extraordinário, maravilhoso na última sexta, dia 26 de janeiro.


Eu acho que Chico Buarque é 10. Senão vejamos os motivos que me fazem acreditar nessa minha afirmação.


Ele é filho de uma das maiores inteligências do país, Senhor Sergio Buarque de Holanda, autor de obras imorredouras sobre a nossa cultura.


Alguns vão perguntar – Cultura? O que é mesmo cultura hein?


Bem, hoje não vamos debater isso, vamos deixar para outro dia que hoje eu só quero falar dele, de Chico Buarque o meu ídolo desde os meus 15 anos, ou seja, faz algum tempo.


O que é interessante é que dos meus 15 anos para cá o cara só melhorou, só se refinou, só se aperfeiçoou na difícil arte de compor letra e muitas vezes música criando assim obras primas que o “Canecão” inteirinho cantava junto com ele durante o show.


Músicas que falam do Brasil, do amor, de traição, do cinema, do abandono, do teatro, da família, da saudade, da literatura e do Rio de Janeiro.


Alias “Carioca” é o nome do espetáculo apesar de Chico ter sido criado em São Paulo e ter se formado no “racée” Colégio Santa Cruz no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo.


No dia 19 de junho nasce, na Maternidade São Sebastião, no Largo do Machado, Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Hollanda, o quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvin fluminense roxa., como o filho.


1946

A família muda-se do Rio para a Rua Haddock Lobo, em São Paulo. Seu pai é nomeado diretor do Museu do Ipiranga.


1953

Sérgio Buarque é convidado para dar aulas na Universidade de Roma e a família muda-se para a Itália. Compõe suas primeiras "marchinhas de carnaval" e torna-se trilingüe, falando inglês na escola (norte-americana) e italiano nas ruas.


1963

Ingressa na FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Frustrando o desejo da avó materna, Maria do Carmo, que sonhava ver o neto desenhando cidades, Chico abandonaria o curso três anos depois. Um dos ingredientes para a decisão é o clima de repressão que toma conta das universidades após o golpe militar de 1964.



O cenário do show é lindo como o show.


Idealizado por Hélio Eichbauer - um móbile metálico reproduzindo as montanhas do Rio (Morro Dois Irmãos, título de uma música dele) - serviu à perfeição para destacar a teatralidade de cada canção.


Em sambas mais acelerados, como "Dura na Queda" e "Morena de Angola", era ensolarado pela iluminação do genial Maneco Quinderé. Na segunda, aliás, até um curto solo de calimba - pequeno instrumento de percussão africano, com som que lembra o da marimba - basta para arrancar aplausos entusiasmados do público.


Quando a sonoridade era de bolero (como em "Leve" e "Bolero Blues" ), palco e móbile ganham tons azuis, tom exato para as dores de amor. Ou o vermelho dos "inferninhos" - os bailes de antigamente em temas mais movimentados, como "A História de Lilly Braun" e "A Bela e A Fera".


Já em "Renata Maria" e "Outros Sonhos", o sol de Hélio transmuta-se em lua, emoldurando a paixão das canções.


A seguir, Bia Paes Leme sai dos teclados para dividir vozes com Chico em "Imagina", criação dele com Tom Jobim de 1983. Privilégio igual só tem o baterista Wilson das Neves, quase ao final da apresentação, ajudando "a chefia" a desfiar a divertida "Grande Hotel". em "Olé, Olá", esta no bis).


Chico, aliás, teve de voltar três vezes ao palco. Na primeira, cantando "Sem Compromisso" e "Deixa A Menina"; na segunda, "Olé, Olá ; e na terceira, "João e Maria", com a platéia cantando junto. Aí foi Chico quem aplaudiu.


Chico tem um Octeto que consegue soar como orquestra
Com seu violão, mais o piano de João Rebouças, os teclados de Bia Paes Leme (que brilha como cantora no contracanto de "Imagina"), o contrabaixo de Jorge Helder, ainda o sax e a flauta de Marcelo Bernardes e o ritmo de Wilson das Neves e Chico Batera, Luiz Cláudio faz um octeto soar como uma orquestra que dá a Chico Buarque a qualidade de som exata para a sua voz e as suas composições.


A luz amarela durante a canção Bye Bye Brasil, com novo arranjador espetacular, é linda, e nos leva para a viagem que a letra propõe.


Essa letra é um caso tão interessante em que as palavras acompanham as imagens do filme são muito mais eloqüentes do que o filme propriamente dito.


Cacá Diegues não é ruim mas Chico é muito melhor.


Oi, coração

Não dá pra falar muito não

Espera passar o avião

Assim que o inverno passar

Eu acho que vou te buscar

Aqui tá fazendo calor

Deu pane no ventilador

Já tem fliperama em Macau

Tomei a costeira em Belém do Pará

Puseram uma usina no mar

Talvez fique ruim pra pescar

Meu amor

No Tocantins

O chefe dos parintintins

Vidrou na minha calça Lee

Eu vi uns patins pra você

Eu vi um Brasil na tevê

Capaz de cair um toró

Estou me sentindo tão só

Oh, tenha dó de mim

Pintou uma chance legal

Um lance lá na capital

Nem tem que ter ginasial

Meu amor

No Tabariz

O som é que nem os Bee Gees

Dancei com uma dona infeliz

Que tem um tufão nos quadris

Tem um japonês trás de mim

Eu vou dar um pulo em Manaus

Aqui tá quarenta e dois graus

O sol nunca mais vai se pôr

Eu tenho saudades da nossa canção

Saudades de roça e sertão

Bom mesmo é ter um caminhão

Meu amor

Baby, bye bye

Abraços na mãe e no pai

Eu acho que vou desligar

As fichas já vão terminar

Eu vou me mandar de trenó

Pra Rua do Sol, Maceió

Peguei uma doença em Ilhéus

Mas já tô quase bom

Em março vou pro Ceará

Com a benção do meu orixá

Eu acho bauxita por lá

Meu amorBye bye, Brasil

A última ficha caiu

Eu penso em vocês night and day

Explica que tá tudo okay

Eu só ando dentro da lei

Eu quero voltar, podes crer

Eu vi um Brasil na tevê

Peguei uma doença em Belém

Agora já tá tudo bem

Mas a ligação tá no fim

Tem um japonês trás de mim

Aquela aquarela mudou

Na estrada peguei uma cor

Capaz de cair um toró

Estou me sentindo um jiló

Eu tenho tesão é no mar

Assim que o inverno passar

Bateu uma saudade de ti

Tô a fim de encarar um siri

Com a benção de Nosso Senhor

O sol nunca mais vai se pôr



Depois de algum tempo enfim um espetáculo com adrenalina e paixão.


Talvez como os, segundo mamãe, saudosos festivais da Musica Popular Brasileira, aliás onde Chico Buarque apareceu pela primeira vez cantando “A Banda” e nunca mais foi esquecido tamanho impacto que causou.


Como queria demonstrar o show de Chico é ouro puro, altamente recomendável, para qualquer idade, qualquer etnia, qualquer religião e principalmente para que ainda ama o Brasil. E não sou apenas euzinha que penso assim, tanto é que o show foi prorrogado até meados de fevereiro.

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