Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



quinta-feira, 29 de março de 2007

Sinto



Se me perguntarem porque espero ou o que espero, não sei dizer.
O que sinto é que ainda não é isto.
O que sinto é que caminhei tanto para alcançar o que pensava que era o que desejava, e agora, que olho o mundo do cimo da montanha, vejo que afinal... não quero tanto assim.

Afinal, sou feliz com muito menos. Preciso apenas de sentir, preciso apenas de acreditar, de sorrir. Preciso da liberdade, aquela que me faz sentir que não tenho nada a perder. Foi sempre assim que vivi, numa corda bamba, a pagar para ver se caía ou ganhava asas para voar.
Quase sempre caí. E levantei-me. É por acreditar... que talvez amanhã, quem sabe, consiga voar.
Viver a arrumar histórias e a começar outras...ir depressa demais e outras vezes não ir sequer. Chorar porque rio e a rir porque choro. Com este coração que não me cabe no peito. E reconstruo-me assim por dentro, devagar.

Recordo que um dia li um provérbio que dizia que quando chegasse a um momento em que me sentisse, de tão cansada, incapaz de dar um passo sequer, teria chegado precisamente a metade do caminho que era capaz de percorrer. Talvez seja verdade. A coragem surge sempre algures, nessas coisas que nos escapam ao primeiro olhar...


É a falta. A falta do toque que sabemos ser por amor. A falta de alguém que nos trate bem, que nos mime, que esteja lá, simplesmente. Mais que namorado, marido ou amante. Companheiro. O porto para o qual sabemos sempre poder regressar. O ter alguém à nossa espera. O esperar por alguém. A quem dar o ultimo telefonema do dia. A quem desejar boa noite. A cabeça de descanso num peito que se mexe devagar. O silêncio. A mão e o corpo entrelaçados noutra mão e noutro corpo. O beijo. O riso. O chamego. O aconchego. O partilhar. Alguém para escutar, alguém que nos escute. O dividir. O acordar cedo porque está tanto por viver... a tranqüilidade das manhãs de domingo...as tardes de aconchego no sofá, entre cobertas e almofadas. As noites de travessura.
Cumplicidades... e o amor sempre escondidinho, ali perto, à espera do momento para gritar. E quantas vezes ninguém o ouve.


Por vezes a falta pesa. A falta de coisas tão banais...como o amor. O amor que quando não morre mata. O amor que muitas vezes, por desistir de nós, nos obriga a desistir dos nossos sonhos... sempre o amor. Que por ser tão odiado é tão procurado. E nessa procura, ele a bater à porta, de mansinho, e nós, distraídos.

Quantos sentem falta? E de quê? Ninguém fala das faltas que sentem, das saudades que têm. A verdade é que não se fala do que se sente... medo? Talvez. As coisas bonitas calam-se para se gritar alto as outras. As feias. É sempre mais fácil magoar que dizer gosto-te.


Eu sinto falta de muitas coisas...até de receber uma carta, verdadeira, em envelope fechado com o carimbo dos correios e tudo. Sem ser e-mail, que parece ser urgente demais...mesmo que fosse uma carta que começasse por: "minha querida Raquel...."
Saudades das coisas mais pequenas.... saudade.
E a saudade só faz com que espere. Espero o dia em que a possa matar, para sentir aquele sorriso que nasce inocente, por uma ternura que vem do peito, cá de dentro, devagarzinho... só para sentir que todo o tempo de espera não foi em vão...


A verdade é que sempre segui pelo melhor caminho, o único que naquele instante poderia seguir. Parece-me agora que sempre o mais difícil.
Hoje que penso nas perdas, nas faltas, na saudade, nas esperas constantes, vejo que perdi muitas almas, mas nunca a minha, perdi muitos corpos mas nunca o meu. Perdi muitos homens mas nunca o amor. Aquele que continua cá no fundo, onde faz eco. O que espera. Apenas.

"Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho aonde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus e que não abro mão

Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você


É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir

Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
E eu vou lembrar você...

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