Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



quarta-feira, 28 de março de 2007

Palavras




Hoje precisava de ti...
Não sei se do teu olhar, das tuas mãos, do teu sorriso, da tua voz ou simplesmente da tua escrita. As palavras têm o poder de fazer nascer de novo a esperança, da mesma forma que conseguem pôr por terra qualquer ilusão.
Muitas vezes é a ausência das palavras que faz com que tudo fique vazio, sem sentido. Hoje sinto-me um pouco assim, vazia, porque aos poucos, todas as tuas palavras se perderam por becos, por montes, por vales em forma de eco, mas sem chegarem a mim. Eu, que preciso das tuas palavras.
As palavras encantam-me. O poder que elas contêm, sabes?, por isso me é sempre tão importante conseguir acreditar no que me dizem as bocas, no que me escrevem as mãos.
Como se fosse o principio e o fim de tudo. Mesmo que a vida já me tenha ensinado que no fim, resta nada. Nem sequer as palavras...
Hoje, particularmente hoje, sinto-me cansada. Das palavras. De as escrever, repetidamente, misturá-las umas com as outras para te dizer o que existe cá por dentro. Deslizam de mim pela ponta dos dedos mas não dizem o que sinto, o que quero. Escrevi-te tantas só para te dizer... mas não fui capaz... parece-me que escrevi muito, mas mesmo assim, não o suficiente para que através delas entrasses em mim para saberes como é.
Esgotei as palavras. Enquanto me desgastei nas esperas. Inevitavelmente teria de ser assim.
Hoje queria dizer-te tantas coisas e faltam-me as palavras...
Este silêncio em vez de ti, corrói por dentro. E digo mil vezes em voz alta que preciso esquecer-te, para ver se consigo escutar-me. Eu sei que chegará a hora em que será assim. Eu sei...
Sei tambem que o que mais custa nem sequer é terminar, mas sim aceitar que terminou.
Vou ser capaz, vais ver. Tu não serás uma decepção maior que todas as outras. Irás ficar aqui num cantinho qualquer do meu coração, para que se um dia me cruzar contigo, possa olhar-te nos olhos sem ter que baixar os meus.
Todas as histórias de amor são iguais... também tu um dia já não me irás doer.
Queria dizer-te tantas coisas... mas este peso nos ombros que o teu silêncio me traz, estas mãos tão vazias, tão cheias de nada...
Talvez chorar me aliviasse o peito, mas já não quero. Não quero chorar, mesmo que precise.
Sabes aquelas horas em que te olhas ao espelho e já não sabes de ti? Aquelas horas em que olhas para um caminho percorrido e sentes que todas as esperas foram vãs? Todos os dias em que pensaste que talvez fosse hoje, e nunca foi? Que a cada telefonema, a cada carta, acreditaste, e tudo continuou suspenso? Não sei se sabes do que falo... talvez esta seja também uma daquelas cartas em que tanto escrevo e no fim continua tudo por dizer, porque não consigo transmitir toda a confusão de sentimentos que existe dentro de mim.
Sabes aquelas horas em que sentes uma vontade a te nascer por dentro de desistir? Sinto-me assim. Porque ainda te quero. E não te quero mais. Porque ainda te espero. E não quero esperar mais...
Posso dizer-te que te sinto a falta, sabes? E talvez fique tudo dito.


"Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."
Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Fernando Moreira disse...

Você anda deixando a verve epidérmica cada vez mais solta... Bjs