A vida é apenas uma viagem. Solitária…
Futuro trabalho: desempregada.
Primeira ideia: estou fo****.
Segunda ideia: que se fo**.
Terceira ideia: vou embora.
Primeira pergunta: para onde?
Primeira sensação: aqui sou nada. Posso ser nada em qualquer outro lugar.
Primeiro pensamento: vou incendiar-me para depois renascer das cinzas, procurar abrigo onde todos os anjos dormem.
Segunda pergunta: Porquê?
- Porque sim. Porque quero. Porque preciso.
- Já não há nada de novo aqui.
- Sei que na distância terei outro discernimento.
- Talvez na saudade encontre um caminho.
- Talvez consiga abandonar o amor que não quero sentir.
- Olhando de longe, talvez perceba onde estou a errar.
- Tentar. Mais não seja para descobrir que o meu lugar, afinal, é aqui.
- Porque não quero morrer só porque estou viva, isso é comum. Quero morrer enquanto vivo.
- Porque, acima de tudo, só se vive uma vez, mas se for da melhor maneira possivel, uma vez basta.
Vou sozinha. Procurar por mim lá longe. Quem sabe me encontro? Talvez na distância perceba quem realmente está perto de mim.
Não sei… não sei porque vou. Sei que não posso continuar aqui a assistir a vida a desabar sem nada poder fazer. Mas posso, afinal posso. Posso partir, sempre. Posso ser livre dentro de todas as prisões que tenho dentro de mim. Mesmo que nem saiba bem o que fazer com esse ser livre que existe em mim.
Talvez por tudo, por nada. Recomeçar como sempre fiz afinal.
Preciso domar este coração selvagem. Mesmo que não acredite que isso é possível. Ou pelo menos ensiná-lo a não dar tanto de si, a não me bater acelerado no peito, revoltado. A não ficar triste por tudo o que dá sem receber.
Sei que sentirei saudade. E tenho a mesma certeza que essa saudade me fará bem. Para saber. Para aceitar todos os fins que me impõem. Todas as causas pelas quais não me deixam lutar. Conformar-me com o que decidem por mim. Aceitar, abandonar numa qualquer berma de estrada e seguir.
Porque sou pássaro que voa para lugar algum, porque tenho asa ferida e mesmo com apenas uma asa, atrevo-me a voar. Se cair, será ao tentar levantar-me.
Sei que nem sequer tenho idade para me deixar guiar pelo sonho, pela aventura. Apostar as fichas que tenho e partir, abandonando o que conheço e o que tenho. Sei que supostamente devia ficar e encontrar um trabalho. Mas o que faço, é ir embora sem pouco me importar com isso. Invisto o que tenho numa partida que nem sei se terá regresso. Preciso ir para ver, sentir, cheirar, conhecer.
Vou, depois logo vejo.
Encontrar respostas, talvez, que aqui, perto de tudo o que quero, embalada em sentimentos, não consigo.
Vou. Apenas. Deixo-me ir numa viagem tão só quanto aquilo que sou, carregando tudo aquilo que amo. Talvez seja loucura… mas sinto que preciso ir.
Tenho medo, mas esse medo só me faz seguir em frente.
Todos os passos que damos, sozinhos, sempre são mais penosos. Acompanhados, tudo fica mais fácil. Mas nada que vale realmente a pena é fácil, por isso preciso fazer isto assim, sozinha. Vou comigo. Aliás… os meus últimos anos têm sido assim.
Caem as lágrimas porque preciso ir e nem sei se quero. E ao mesmo tempo quero tanto mas não sei se será isso que preciso. E parece-me ver toda a minha vida resumida a um simples "não sei". Mas um “não sei”, é tão imenso, contem em si tantas respostas que possivelmente até sou eu que não as quero aceitar. Mas nem isso sei…
Mas já nada me move. Decidi e não volto atrás. Porque algo cá por dentro me diz para partir. Atravessar oceanos e continentes para perceber, no outro lado do mundo, que tudo fez sentido, que nenhuma luta minha foi em vão. Partir de coração pesado e voltar depois renovado, renascido da cinza, leve e livre. Com espaço para que entrem em mim novos amores, para me permitir sentir o que já não lembro, ou pelo menos, viver as histórias, dar-lhes uma continuidade. Por uma vez que seja, que não fiquem apenas histórias suspensas.
Inicia-se uma nova época. Uma outra etapa. Da mesma forma que me começou um novo caderninho, na mesma forma que se inicia o Outono.
Março, sempre foi mês de mudança na minha vida. Este, não podia ser diferente.
Pago para ver. Porque sou crente, porque sempre acredito que é possível.
Sinto-me perdida, confusa, sem norte. Sinto-me perdedora de todas as lutas que travei. Sinto-me desorientada e não percebo o rumo que sigo, sempre que olho para os caminhos que decidi seguir. Sou um elefante numa fila indiana… sigo atrás de quem tem as costas voltadas para mim, em vez de olhar para trás, ver quem me segue, fielmente, quem vem no meu encalço.
Um dia, inevitavelmente, seria assim. Num quase desespero, numa vontade que nos rebenta os muros do peito e nos faz arriscar, sorrindo e chorando. Saltar, criar asas e tentar voar.
Talvez seja fugir… mas sei que todos os amores grandes, um dia, nos fazem voltar. Sei que mesmo que fuja, levo comigo todos os momentos felizes para sempre os recordar com ternura. Só não quero fugir de mim… do que sou.
E se for apenas uma fugitiva, que nunca parta pensando que de longe, não vou lembrar.
E se chorar, que todo o céu se cubra de astros e estrelas, para ter a certeza que algures, quem sabe, alguém pense em mim, com carinho…
Como confissão: A todos que estão e estiveram desse lado… Aos que conheço e a todos os que se mantêm no silêncio das sombras, quero dizer-lhes que no meio de todo o meu “não sei”, tenho a certeza que vou sentir a falta de todos vocês.
Na minha ausência, falem-me sempre, como se eu estivesse aqui. Orem por mim…
E mantenham-me a casa limpa, perfuma e arrumada, para me receberem um qualquer dia destes, talvez quando já nem lembrarem quem sou. Que se conseguir, lhes dou noticias. Se não, quando voltar, falarei de tudo o que vi, o que senti. Se um dia voltar…
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