Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



terça-feira, 27 de março de 2007

Raquéis



Por trás do véu, existem tantas de mim!
Saio de casa de sorriso no rosto, de altivo porte, de bem com a vida.
E existo eu, deitada numa cama tão imensa, tão sozinha, com um sentimento de abandono em mim. Abandonada pelo amor, abandonada até pela Raquel que preciso e quero ser.

Parece até que me divido em mil numa só. Parece até aqui dentro sou vazia e cheia de nada.
Os meus dias multiplicam-se para acompanhar os outros nas dificeis caminhadas, para limpar lágrimas e oferecer sorrisos.
E depois existe a Raquel que não tem companhia. Nem quem limpe lágrimas.
Existo a rir por tudo...a chorar por nada.
Existo forte, rude, cruel e má... e existo eu de coração meigo, carente, fraca, sozinha.
Existe a Raquel coragem...existe a Raquel que quer sair da rede do medo.
Como me posso conhecer?
Como posso dizer como sou?

É como que se eu, assim, seja suficiente em tudo. Finjo que o amor carnal não me faz falta, que não preciso que a pele se rasgue, finjo que na minha loucura sou saudável. Como se fosse feliz sozinha...
E existo eu, assim, triste sozinha. Com tanta coisa em mim para dar, com palavras meigas, com sorriso amigo, com carinho que quero e preciso dividir. Com falta desse amor feito de pele de carne e de sabor...

E com quem?
Por vezes o mundo parece-me cruel, os outros derrubam barreiras que eu construí e depois deixam assim a vida em ruínas... a minha vida.
E sei que quanto mais tempo estiver sozinha, mais custará deixar entrar alguém. Sei disso. E mesmo assim o medo de perder tudo o que possa construir me faz afastar de quem sei que ama, que quer e que deseja. Ou talvez não. Talvez seja ilusão..talvez não me amem, nem queiram nem desejem. Talvez.

Quando à noite me deito, faço os sonhos. Imagino o que sei que dificilmente terei...

Na verdade a falta de um carinho, de um amor, de uma paixão, chega a pesar.
E mesmo assim, quando o coração amolece, recuo. Digo as palavras que sei que vão magoar. Por vezes, se fizer com que me odeiem é sempre bem melhor, para que seja mais fácil esquecerem-me. A paixão consome-nos, leva-nos ao extremo...e eu ia achar fantástico apaixonar-me. Mas há a Raquel que não quer, que se afasta.

Existe a Raquel que calça as botas de saltos altos, que cruza a perna e a Raquel que se senta no chão.
Existe a Raquel mulher...e a Raquel criança.
A que chora ao ver um gesto num filme e a que é indiferente.

Sou a contradição.
Sou tudo e nada. O riso e o choro. A noite e o dia.
O preto e o branco.
Sou o talvez...

E sei que é difícil ser tantas Raquéis.
E sei que sou um emaranhado de confusões.
E sei também que choro demais.
E sei que...nada...

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