Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



sexta-feira, 30 de março de 2007

Já dei conta



- Parece que já chegou o Outono.
- Já dei conta...

Melhor assim. Época de renovação. Época de deixar cair de mim as mágoas como folhas. Tempo de deixar partir todos os restos com o vento.
Tempo de esperar que passe o Outono, o Inverno e que depois, quem sabe na Primavera, tudo se renove lá fora e por dentro de mim.

Chegam as noites mais cedo, mais frias. E descobrem-se outros prazeres...
A casa nova, as almofadas coloridas, o café em canecas grandes que me aquecem as mãos enquanto fico enroscadinha no sofá branco para ver um filme qualquer. Os banhos quentes que transbordam espuma, à luz de velas. Os pijamas e os lençóis, as meias, os edredons fofinhos.
O caminhar sobre as folhas secas...o sentir na orla da praia as norteadas que me congelam o rosto e despenteiam os cabelos. E tudo vazio...
Como se de repente desse conta, numa areal deserto, que o mundo terminou e só fiquei eu.

O Outono pode ser nostálgico, sim. Já não há aquele calor que nos sufoca, que nos faz desejar sair de alças e roupas leves. Viajar para sul de corpos que ainda não se conhecem e que só desejamos ter coragem para lhes conhecer o sabor e o cheiro.
Chega o Outono e perde-se a vontade de atravessar a noite por todas as ruas, sentindo o pulsar da terra, de olhos fechados para se ver melhor.


Chegou o Outono... e à medida que ouço os meus passos, num qualquer lugar de onde vejo o pôr do sol, sei que tudo ficará bem. Porque não há outra maneira de viver...
Porque sei que em cada folha caída, em cada lágrima vertida, o peito transforma a tristeza em esperança, bate de novo, compassado, como um rumor de rio sem corrente...e nas veias corre outra vez o sangue alucinado de quem sente que ainda tem tudo para viver.


Sim, já notei que é Outono outra vez...
Mas pouco importa...o aconchego de uns braços que nos querem bem, também nos faz olhar a vida a renascer em nós...

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