Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Vinte e muitos



Tenho vários indícios de que não sou mais jovem. O primeiro deles é um certo mau humor.
Buzino quando estou atrasada para o trabalho e tem um casal se beijando na minha frente, cegos para o sinal que abriu. Quando eu era jovem, achava lindo. Agora acho chato, até porque preciso chegar logo no trabalho.
O segundo indício está pulando, nesse momento, para fora da minha agenda. Dezenas de contas para pagar. Quando eu era jovem, não pagava tantas contas ou não pagava nenhuma. Primeiro porque ainda contava com a graninha da mamãe e do papai e depois porque minha conta bancária nem me permitia fazer tantos gastos e arcar com tantas responsabilidades.

O terceiro é uma falta de saco para tudo o que está “bombando”. Me recuso a estar no centro dos acontecimentos. Tenho medo de multidão, impaciência para fila e preguiça de barulho. Prefiro viajar fora de temporada e ir a festinhas fechadas só para amigos.
O quarto indício é uma sensação de que “não cabe mais muita gente”. Meu mundo ficou pequeno. Quando se é jovem todo mundo é seu amigo e o seu coração ainda é enorme. Você divide a casa, o banheiro, a comida, o lugar, o namorado, a prova... Agora não me vejo morando com mais ninguém (a não ser o pai dos meus filhos que, diferentemente de quando eu era jovem, tô louca para que apareça), não me vejo mais amando milhares de pessoas, me tornei seletiva e tenho poucos e bons amigos. E odeio definitivamente dividir banheiro.

O quinto indício é que passei a gostar de coisas que, quando eu era jovem, não me imaginava gostando de jeito nenhum. Pra começar não passo nem na porta de lanchonetes de rede. Almoço feliz pra mim é feito de grelhados, legumes, saladas e coisas integrais. Bebida pra mim deixou de ser aquela pra me deixar louca e passou a ser aquela para limpar qualquer resquício de loucura de dentro de mim. Água de coco virou o meu vício. Batata frita a morte. É, aprendi a comer, mas sinto falta de quando eu achava que sabia o que era realmente viver. Agora eu vivo muito melhor, mas sem aquela ânsia toda. De vida e de estômago estragado pelas porcarias.
O sexto e definitivo indício é que me nasceram algumas ruguinhas no canto dos olhos e alguns poucos e fortes cabelos brancos. Tenho, sei lá por que, certo orgulho deles. Acho que são a prova de que sobrevivi à fase em que a gente precisa ser mais forte e mais macho e mais maduro e mais equilibrado do que qualquer outra fase da vida: a fase em que se é jovem! Ô fase boa, mas ô fase difícil!

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