Ela: Eu não sabia.
Ele: Eu falei quando você não perguntou.
(sem trufas, sem flores, sem mágica)
Vai a onda
Vem a nuvem
Cai a folha
Quem sopra meu nome?
Raia o dia
Tem sereno
O pai ralha
Meu bem trouxe um perfume?
O meu amigo secreto
Põe meu coração a balançar
Pai, o tempo está virando
Pai, me deixa respirar o vento
Vento
Nem um barco
Nem um peixe
Cai a tarde
Quem sabe meu nome?
Paisagem
Ninguém se mexe
Paira o sol
Meu bem terá ciúme?
Meu namorado erradio
Sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira
Pai, me deixa caminha ao vento
Vento
Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento
Vento
Vento, vento
"São as paixões que esboçam os nossos livros, e o intervalo de repouso entre elas que os escreve."(Proust in À procura do tempo perdido)
Ler seu nome, ver suas fotos, lembrar de seu sorriso... Isto tudo sentindo a sua tristeza que também é a minha, desta saudade que apaga todo e qualquer limite entre o mundo dos vivos e dos mortos. Mas como é dolorido pensar-te assim, morto. Por que sei que agora está mais vivo do que antes em meu ser, em minha essência.
São tantas as lembranças... As pescarias, os torneios, as nossas viagens de carro Brasil a fora e as de pensamentos e diferenças alma adentro. Suas manias, seus gestos.. seu coçar a cabeça, as suas histórias todas as noites antes de eu dormir, o seu jeito de me chamar de “Doce”, meu primeiro sutiã que você comprou, insistindo que eu usasse brincos ["Doce, você vai ficar linda, filha!"], me levando pra fazer inúmeras provas e sempre me apoiando, nossas brigas [Esta é a pessoa que eu mais brigo, mas que mais gosto!], nossas idas aos jogos de futebol, sua alegria em comemorar comigo no Nova Capela ["Só vc p/ me trazer p/ a Lapa, doce!"], seu choro na minha formatura da faculdade, e seu sorriso quando passei no Mestrado [Vê se não vai virar "bestanda", hein?], seu pedido de que nós nos afastássemos, e os 6 meses sem lhe ver antes do seu desencarne... A sua capacidade de ser mais amigo do que pai, de me proteger sempre, e de ser mais emoção do que razão.
Suas dicotomias, tão suas.. que herdei como minhas. Sua existência explosiva e dócil, marcante em minha vida pra todo o sempre.
Sei que você está ao meu lado aqui quando escrevo estas linhas, e que está orgulhoso de como venho levando minha vida. Você faz parte desta minha história, e em cada momento meu, em cada passo que dou, elevo meus pensamentos e busco a ti. Escolhas em nossas vidas nos levam a caminhos sinuosos, perigosos, e findos. Que agora como espírito, você possa ter maior paz e a certeza de que eu sempre me orgulharei de ter lhe tido como meu PAI nesta vida. E que ainda que estejamos em planos diferentes, o amor que temos um pelo outro nos fará sempre “Doce” e “Du”. Que Deus lhe abençoe hoje e sempre!
Te amo, sempre!
Vinha do seio dela, entre a renda e a miçanga, um cheiro de mulher e um
cheiro de cananga. Eram os olhos seus, sob a fronte alva e breve, como
dois astros de ouro a arder num céu de neve. Mordia, por não rir, o lábio
úmido e langue, vermelho como um corte ainda vertendo sangue...
E falei-lhe de amor...
"Eu amo, porque amar é variar e, em verdade, toda a razão do amor está na variedade..." - Menotti