Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobreviventes do terremoto no Haiti rezam por seus 112 mil mortos



Não sei se te acontece o mesmo... alturas em que de tudo estar tão bem, que não tens a certeza que é real. Ou nas outras em que te sentes tão errada na vida que te parece, tambem, irreal.

Horas de duvida. Numa fantasia- realidade de linha ténue. O que é, o que não é... ou o que não querias que fosse.

Ou talvez não...Se calhar a vida é apenas aquilo que lhe vemos e não tem mais nada. E são sonhos reais e realidades imaginárias.


O desejares, lá no fundo onde faz eco, que todos sentissem a paz que trazes contigo numa certa altura da vida. Como a que sinto, nesta fase tranquila em que me sinto viva.

Mas em qualquer etapa, seja a boa ou a outra, a vida tem sempre duas faces. A nossa e a outra.

Ontem, estava a ver televisão. Vê tu?

Euzinha, dentro de uma vida normal. Mas é realidade.

Tal como as imagens que via de corpos estendidos no chão, sem ninguem que os reclame. Sozinhos na morte. Até na morte sozinhos.

Os olhos de quem sofre e nem sequer chora.
Os paises que de tão miseráveis que são, ainda têm um destino cruel por cumprir.

Não devia ser assim, certo?

E vês o desespero.

O olhar perdido de quem nada pode fazer.

O grito da revolta.

E eu sentada num sofá, confortável.

A ver imagens numa tela.

A sair para ir ao cinema.

A preparar um jantar.

A sobrar comida e outra a estragar-se.

Comprada porque sim e depois, não consumida na validade.

O lixo.

A fome no mundo.



Eu pensando onde quero me jogar no mundo.

A esforçar-me para juntar aqui e ali uns troquinhos para o conseguir.

E pessoas nos escombros, ainda resistentes, à espera.

Braços que cansados levantam pedras. Não há máquinas. Dizem.

Eu a dizer que preciso comprar cortinas.

Que ainda preciso de uma lista infindável de objetos neste lugar que é o meu lar.

E as pessoas a dormirem na rua.

A pilharem para sobreviver.

Crianças pequenas em braços estranhos que os seguram.

E os nossos sobrinhos que fazem birra porque não lhe compraram um brinquedo.

A dor do mundo.

E nós, que fazemos parte desse mundo, a olharmos de soslaio.

Num medo que um dia, quem sabe, possamos estar assim.

Mas não mudamos.

Continuamos a nossa vida real a imaginar outros voos.

A deixar aqui fora os reflexos do que somos por dentro.

Quando olhamos, será que vemos? Nem sempre...
Não sei se te acontece o mesmo.

Ha horas em que a tua volta vês tanta tragédia e mesmo assim, dá-te ao luxo de pensar em coisas que queres.

Coisas banais. Sem nenhuma urgência nem valor.

E depois, mais tarde, dás-te conta e sentes-te assim... pequenina.


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