Não sei se te acontece o mesmo... alturas em que de tudo estar tão bem, que não tens a certeza que é real. Ou nas outras em que te sentes tão errada na vida que te parece, tambem, irreal.
Horas de duvida. Numa fantasia- realidade de linha ténue. O que é, o que não é... ou o que não querias que fosse.
Ou talvez não...Se calhar a vida é apenas aquilo que lhe vemos e não tem mais nada. E são sonhos reais e realidades imaginárias.
Ou talvez não...Se calhar a vida é apenas aquilo que lhe vemos e não tem mais nada. E são sonhos reais e realidades imaginárias.
O desejares, lá no fundo onde faz eco, que todos sentissem a paz que trazes contigo numa certa altura da vida. Como a que sinto, nesta fase tranquila em que me sinto viva.
Mas em qualquer etapa, seja a boa ou a outra, a vida tem sempre duas faces. A nossa e a outra.
Ontem, estava a ver televisão. Vê tu?
Euzinha, dentro de uma vida normal. Mas é realidade.
Tal como as imagens que via de corpos estendidos no chão, sem ninguem que os reclame. Sozinhos na morte. Até na morte sozinhos.
Os olhos de quem sofre e nem sequer chora.
Os paises que de tão miseráveis que são, ainda têm um destino cruel por cumprir.
Não devia ser assim, certo?
E vês o desespero.
O olhar perdido de quem nada pode fazer.
O grito da revolta.
E eu sentada num sofá, confortável.
A ver imagens numa tela.
A sair para ir ao cinema.
A preparar um jantar.
A sobrar comida e outra a estragar-se.
Comprada porque sim e depois, não consumida na validade.
O lixo.
A fome no mundo.
Eu pensando onde quero me jogar no mundo.
A esforçar-me para juntar aqui e ali uns troquinhos para o conseguir.
E pessoas nos escombros, ainda resistentes, à espera.
Braços que cansados levantam pedras. Não há máquinas. Dizem.
Eu a dizer que preciso comprar cortinas.
Que ainda preciso de uma lista infindável de objetos neste lugar que é o meu lar.
E as pessoas a dormirem na rua.
A pilharem para sobreviver.
Crianças pequenas em braços estranhos que os seguram.
E os nossos sobrinhos que fazem birra porque não lhe compraram um brinquedo.
A dor do mundo.
E nós, que fazemos parte desse mundo, a olharmos de soslaio.
Num medo que um dia, quem sabe, possamos estar assim.
Mas não mudamos.
Continuamos a nossa vida real a imaginar outros voos.
A deixar aqui fora os reflexos do que somos por dentro.
Quando olhamos, será que vemos? Nem sempre...
Não sei se te acontece o mesmo.
Não sei se te acontece o mesmo.
Ha horas em que a tua volta vês tanta tragédia e mesmo assim, dá-te ao luxo de pensar em coisas que queres.
Coisas banais. Sem nenhuma urgência nem valor.
E depois, mais tarde, dás-te conta e sentes-te assim... pequenina.
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