Mas hoje não é domingo, já é madrugada de segunda.
Sol lá fora...e cheira a Verão. Os dias são mais longos, as noites mais quentes. E as noites quentes, já se sabe, trazem sempre um mistério contido que apetece desvendar de cada vez que o sol se põe. E as minhas noites trazem-me um sabor a eterno... pouco importa que terminem ao raiar da aurora. Serão eternas enquanto existirem. Ficarão na memória, naquela parte que ninguem pode arrancar de nós.
As roupas são bem mais leves e dá vontade de molhar o corpo com água pura. É o que faço...caminho pela rua pouco me importando que os cabelos se encharquem...vem aquele cheiro a terra molhada que me faz sentir com gosto cada gota de água que desliza no rosto.
Eu gosto de chuva. Em dias assim...
O sol teima em mostrar-se, escondendo-se...como se brincasse ao faz de conta. Não seremos todos assim?
Ao final da tarde, uma caipirinha com os amigos, conversas perdidas que se perdem nas horas...nas horas que avançam pela noite e que na noite se perdem horas em corpos que não nos são nada. Eu observo...
Vejo as amigas que conquistam, que são conquistadas... e sempre teimam em me arranjar um par.
Tenho aspecto de quem precisa de par?
Tem!- dizem-me em coro.
Talvez...mas sou eu quem escolherei, quando for a hora. Rimo-nos com tantos defeitos que coloco em todos quantos me apresentam... elas sabem como sou.Mas elas escolhem bem, sabem que tipo de homem me atrai, me faz olhar e desejar... elas sabem. Mas eu sou timida. Tenho as minhas barreiras, as minhas muralhas...portas que fecho devagar para que alguem saia. Mesmo quando querem entrar. Ou até quando eu desejava que não partissem.
Desencontros...
Nem sempre é o momento. E quando é, sente-se. Da mesma forma que se sente que alguem nos quer, nos deseja e não o diz.
Sou resolvida...para entrar um novo homem, preciso que saia o anterior, nada de misturas. Preciso sempre de tempo para me apaixonar...e quase sempre escolho por quem me apaixono. Outras vezes sou escolhida. Acaba sempre por ser aquele que deixo entrar na minha vida devagar, que deixo que me conquiste, que tento acreditar nas palavras e depois, do nada, dou por mim a adormecer e a acordar com um unico pensamento. O peito deixa de ter aquela sensação do vazio, a boca deixa de ter um sabor amargo, e no estômago acontece uma revolução de borboletas.
Deixo que a paixão aconteça, depois, bem.... passo as noites de câmara na mão a fazer filmes, a sonhar acordada... e sonho tanto!
A paixão torna-nos pateticos. E tem o outro lado: faz-nos sentir que somos donos do mundo. Sentimos que o fardo dividido é bem mais fácil de carregar.
E por vezes, por medo, só no receio de fracassar, não embarcamos numa viagem que nos faz perder os sentidos e quem sabe, sermos felizes. Ou o medo de mostrar o que o nosso coração tanto grita e a boca cala... o medo de que depois fique um nada sem sentido. O medo de utilizar as palavras que podem mudar tudo.
Valerá a pena não tocar em sentimentos que nos podem entorpecer? De que valem as palavras que ficam presas, guardadas em nós? De que valem os sentimentos se não forem partilhados? De nada, valem nada. Quando a paixão nos faz fugir em vez de agarrar alguem que tambem nos quer bem... ficam as histórias guardadas nas gavetas, por viver.
Podia ser tudo tão simples....
O medo de sofrer. O medo de perder o pé. O medo de nos aventurarmos por caminhos sinuosos que não têm lógica nem razão, por medo de cair. Mas muitas vezes, cair é a unica coisa que vale a pena. Porque ao cair podemos ganhar asas...
Cair na tentação do prazer carnal, deixar que os gritos contidos no peito se libertem, que os olhos vejam muito mais alem.
Os amores loucos, insanos...
Os amores serenos, tranquilos...
E eu sei que me vou apaixonar muitas vezes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário