"Se me queres comer, come-me de uma vez. Não te fiques pela metade.
Sem metade eu não sou nem tão pouco me dou. Não me transformes em restos.
Come-me com vontade, assim a frio, mesmo que eu não saiba se choro ou se rio.
Espeta-me as tuas garras e devora-me sem piedade, não temas pela saudade...
...estarei dentro de ti.
Rói o mais duro de mim e saboreia as minhas fraquezas, engole alegrias, fracassos e tristezas.
Bebe-me o sangue, o olhar, o pensamento, o riso, o juizo, o ser, o estar, o querer amar.
Rasga a minha pele com teus dentes, mesmo que o sal não seja a gosto.
Come-me o desgosto que é querer e não ter a quem me dar, agora que me tens e me dou ao teu paladar.
Trinca-me as mãos que escrevem coisas que eu não percebo e que recebo do além vindas de não sei quem.
Se me queres comer, come-me depressa, antes que o arrependimento chegue, fale e aconteça.
Come-me."
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