Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



sábado, 20 de outubro de 2007

Quase Novembro



Pensava em desistir daquele ano. Já haviam se passado dez dos doze meses e era como se nada tivesse acontecido. Como a brisa que nunca se transforma em vento, como as nuvens sutis que não se carregam para se desfazerem em chuva e tão pouco se dissipam para deixar passar a luz do sol, dez meses de penumbra abafada. Meses de um prefácio escrito sem letras em páginas amareladas pelo passar de dias vazios. Tantos dias.

Pensava através dos tempos, lembrando o já passado e tentando prever o tempo por vir. Cinzas previsões a faziam pensar em desistir. Mas havia as lembranças dos dias que já haviam sido. Tantos dias que lembrava, como o pensamento daquele momento, vagos, desconexos, distantes. Manhãs construindo castelos de areia, tardes com cheiro de chuva de verão. Dias de alegria sutil que eram, agora, quase que novos velhos sorrisos.

Havia, em algum lugar, a alegria de correr entre as tangerineiras uma tarde quente de verão dos seus dez anos. Havia, um dia, a conquista do primeiro emprego, começado em um primeiro de abril distante. A emoção da primeira viagem de avião, a excitação do primeiro beijo, a lágrima que caiu no momento em que seu pai fez o parto de partir. Já é quase Novembro.

Histórias suas abafadas pela angústia de agora. De quase agora, porque agora havia de novo o vento. Sentia voltar a si o movimento e sorria de novo diante das páginas amareladas e sem letras que eram agora, exatamente agora, o espaço branco onde poderia viver. Sorrir diante de dois meses que poderiam ser os últimos e os primeiros. Pensava de forma não linear e antes de desistir, não pensou mais em desistir. Viver.

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