Leio. Releio. Volto a ler. Viro páginas. Avanço linhas.
Palavras minhas eu assino, dos outros eu transcrevo, dum passado que não teve futuro, dum presente que nunca exi stiu.
Frases que me fazem sorrir, outras que me inundam o olhar.
Histórias que fazem a minha história, remotas ou recentes, e que por muitas letras que destrua ficarão sempre na memória.

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Desejo a você total liberdade para que rasgue páginas neste espaço. Rasgar, romper, transformar algo em outro novo, mesmo que a si mesmo.
A vida é uma sucessão de rasgos, remendos, feituras e escolhas.
Esteja LIVRE!



segunda-feira, 13 de agosto de 2007

ULTIMATUM - mais atual impossível!

Ultimatum
(declamado pela Maria Bethania no show de 12-08-07)

ULTIMATUM

"Fora tu, relesesnobeplebeu
E tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
E tu, qualquer outro

Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
TodosMonte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante

E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudoVós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhador
Para quererem deixar de trabalhar

Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Frouxos
Passai radicais do pouco

Quem acredita neles?
Mandem isso tudo para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora

Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais as janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão

E tu, Brasil...
O mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está o apodrecer da vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada

Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um mundo novo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstractamente o infinito."

Alvaro de Campos [Fernando Pessoa] - 1917

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