"Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto:meu coração está espantado. É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue." - C.L.
Pausa.
Pensamentos desordenados, vento de lembranças, chuva de emoções, alma molhada, e boca seca aqui.
Ouço pássaros, vejo as caixas, os sacos etiquetados, corro os olhos por cada parede, cada arvore do pomar, cada memória daqui, do que vivi aqui.
Cheguei um menina de 20 e poucos, com pai, mãe, avó, familia linda.
Saio uma mulher de 30, sozinha.
Minha familia virou uma constelação de estrelas no céu a me guiar.
O caminhão da mudança chegará em breve. Ainda não desliguei o computador.
Quero registrar este meu momento. Sabe quando você vai partir e as mãos ficam geladas?
Minha casa hoje é o mundo. Tenho a necessidade de ser amiga das palavras. Elas me arrancam esta angústia do peito e a transforma em texto, em pedaços de mim legíveis aos outros.
Sou difícil de ser lida. Nem eu mesma me percebo. Sinto em línguas que meu cérebro ainda não sabe, não decodifica.
A vida depois destes 4 anos mudou de sentido, de eixos pra mim.
Escrevo. Apago.
Eu me edito. Engraçado.
E as mãos seguem frias aqui.
Outra pausa. Agora porque minha melhor amiga me ligou. Outra partida, ela vai morar na cidade dela de origem.
O enterro da minha mãe parece ter mexido com as emoções dela, e foi uma ponte entre a vida do corpo e os pensamentos da alma.
Volto ao texto, mas antes desejo a você amiga a melhor das rotas em sua vida.
As mãos já estão mais quentes. Vi sabiás na janela enquanto falava ao telefone.
Invejo os pássaros. Eles voam e se sustentam no ar.
Eu vôo, e me sustento nas emoções. Na verdade, me enveredo nas camadas de mim mesma. Sou um labirinto, meus amigos as laternas.
Ainda tenho caixas para empacotar. Em qual delas guardarei meus sonhos?
Levo novos sonhos daqui. Minha persona ganhou novas máscaras, meu palco ficou mais iluminado, meu enredo mais rico.
Eu, uma mulher de 30, rumo a minha felicidade.
Eu, espírito livre e com todas as chances do mundo.
Eu, e a saudade que adoça meu ser.
Eu, Raquel rumo ao novo.
Raquel Oliveira - 29/07/09